Eram desses tipos de amigos inseparáveis, torciam pelo mesmo time, eram parceiros de copo e sócios de violão, o que um tocava o outro cantava. Renato tinha vocação para boemia, era negócio antigo de família, já César tinha o talento. E não havia roda de samba, butiquim ou quarto de zona que não conhecessem na cidade.
E por um desses acasos que o destino nos reserva, Renato conheceu um amor de pequena, dessas que faz o sujeito mudar de vida da noite para o dia. Já não aparecia mais no samba, não passava pela rua do bar quando voltava para casa, esqueceu até de trocar a Ré do violão. O que é pior, passou a acordar cedo aos domingos, começou a assistir Fórmula 1 e até sabia o preço do pão.
César, que continuara na vida de vampiro “alcooltófago”, não aceitava a atual condição do amigo. Ligava nos dias de samba, convidava para um chopp depois do trabalho e o insultava chamando de bicha e de desertor do movimento:
- Pô Renato, quando você vai parar de frescura e sair comigo?
-Você sabe que isso não ia da certo, numa dessas eu bebo demais, acabo aprontando e aí você já viu!!
E o amigo tinha sempre uma pérola na ponta da língua:
- Paixão tem prazo de validade e o namoro já está chegando a três anos.
Renato, mais romântico, retrucava:
- E o amor?
César, vivo que só vendo, rebatia:
- A paixão é monogâmica, mas o amor, meu caro, costura pra fora de vez em quando.
E era assim com todo mundo, qualquer amigo que pensasse em namorar passava a ter esse encosto em sua vida. E coitada da namorada que fosse reclamar com ele. Estendia a mão em direção à moça num sinal de comprimento e com um cinismo irritante, nem por isso menos espirituoso, dizia:
- Muito prazer, Consciência.
Um dia o namoro de Renato chegou ao fim. Estava entrando em casa quando o telefone tocou. Era o César:
- E aí, vamos ou não vamos tomar aquela cervejinha hoje?
Com uma voz triste e desanimada respondeu com uma pergunta:
- Você já deve estar sabendo, né?
- O quê?
- Do meu namoro, bolas!
- O quê que tem?
- Acabou.
E para sua grande surpresa, César amistosamente o consolou:
- Cara, se você não estiver se sentindo muito bem e não tiver a fim de sair, eu entendo. Fim de namoro tem dessas coisas e eu sei que você gostava dela. Qualquer coisa a gente deixa pra semana que vem.
Em uma mistura de raiva e espanto Renato explodiu:
- Porra César! Namorei durante três anos e você me ligava todos os dias pra gente sair, agora que eu terminei você me manda ficar em casa?
Houve um silêncio no outro lado da linha. Renato, mais nervoso ainda, voltou a perguntar:
- Não vai dizer nada?
E César, numa cretinice digna das páginas de Nelson Rodrigues, respondeu:
- Missão cumprida, meu amigo!
Bruno Lima
Imoral, mentecapto, bufo,..., injustiçado. Pobre César, perde um amigo por um capricho, e, quando finalmente consegue dar o troco, é recriminado.
ResponderExcluirBelo conto Night.
Enfim, a doce realidade!
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirdescarado...
rs