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sábado, 18 de julho de 2009

Feriadão

O Baptistinha parte do seguinte princípio: “Você quer ver? escuta...”
E quando ele conta história, é um filme. A gente assiste. Eu pego lugar na primeira fila, na turma do gargarejo. Pago até ingresso, se preciso for.
Fomos andando pela alameda, que é nosso atalho para o Bar do Caçapa, enquanto ele contava a viagem “weekend” de seu cunhado, Honório, o desafeto:
Seis horas da manhã , Lote 15, Jardim Gramacho, Duque de Caxias. Honório, mulher e Cia. Ilimitada. se preparando pro domingão na praia de Mauá. O automóvel, por ser uma “ruralwilis” , mais parecia um móvel_alto. Ano 63. Origem: desconhecida. Cor: verde e bege (pelo menos constava no documento). Malhada de plastic. Reformadinha. As rodas da frente, genuvalgas. As de trás, horizontais. Na caixa de ferramentas um alicate, um pedaço de arame de varal e uma chave de fenda de máquina de costura Singer. O estepe é de uma kombi, emprestado. Duas garrafas de coca litro com água. Não, não é pra beber no caminho, não. É pro carro, quando começar a subir a serra. Barraca de praia remendada, faltando o pau de apoio. O mesmo estampado do maiô da mulher. Isopor amarrado com barbante, 17 nós. Rádio de ombro. Carro lotado. As crianças, no banco de trás, já estão saindo na porrada há muito tempo.
Depois do vizinho ajudar o Honório a dar uma chupeta na bateria e inserir a mulher no veículo, é só tirar o paralelepípedo da roda, um empurrãzinho e... para. A mulher esqueceu o frango com farofa. Mas deu pra sair as 11. Na entrada de Magé, eles encostam na sombra de uma árvore. Para esperar o colega do Banco do Brasil ,Carlos Célio,auxiliar de escrita referência 050, que também vai. Todos descem, menos a mulher. Dá muita mão de obra inserir de novo. Eles viajam juntos não é por camaradagem só, não. É pra um socorrer o outro, se for necessário. O colega vai na frente. Lógico, a rural dele é 62, bem velha e pode enguiçar. E como enguiçou. Muito. A ponto de que quando a moça do pedágio falou para o colega: “- R$ 4,50”, ele bateu o martelo: “ – Vendida!”. E lá vão parando. Pra comer milho verde. Pro caldo de cana. Pra por água. Pra comprar jaca. Para e volta, porque errou. Para pra por água. Para porque caiu um isopor. Para porque o guarda mandou. Para pra comprar pamonha. Para pra por água. Para pra vomitar (quando dá tempo). A mão do pai, de vez em quando, larga da mudança e manda bofetão pra trás, pegue no menino que pegar. “- Já falei ‘proceis’ que não quero que fale nome feio na frente da senhora sua mãe, ô seus filhos d #@&*...!!!!”
Chegaram na hora de voltar. Voltaram na hora de sair. Mas eles nem gostam de praia, mesmo. Eles curtem é aventura. Na volta o Honório falou para o colega:
- “A gente veio pra passear, tá certo. Mas você precisava trazer o carro?”
Nesta altura da história, no final da alameda, eu e o Baptistinha estancamos na porta do ginásio, na hora da sineta da saída. Ficamos aguardando passar o estouro da boiada para seguir nosso rumo ao boteco. O Baptistinha ali, paradinho. Mãozinhas cruzadas. Barriguinha pra frente, tentando contar as cabeças. Uma professora, muito gentil, pensou naquele vovôzinho ali esperando o netinho e perguntou pra ele:
- “Ôi, vovôzinho, o senhor está esperando alguém ?
- “Não, minha senhora. A barriga é de cerveja mesmo...”

Roberto Sousa

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