O Eleutério Salustiano é o maior fazendeiro de 2 alqueires e ¼ da região. ¼ é porque a sede não tem nada além de um quarto de guardar material de pescaria e cerveja. E o poço, lógico.
Convite feito, fomos para a fenomenal, sensacional inauguração do ex-quase-futuro famoso Eulet’s Pesque-e-Pague. Eu, o Joel, o fusca 66 do Joel e a Dirce. Pra quem não conhece a Dirce, ela é a única freqüentadora, mulher, assídua do Bar do Caçapa. Solteirona, quarentona, “com cara de tango e andar de bolero”. É mais conhecida como Caixa de Isopor: é só encher ela de cerveja que você leva pra qualquer lugar.
Eu, que não gosto de pescar, pensei que ia ser um saco. Não, não foi. Foram dois. Vá lá, a cerveja estava geladinha. A companhia merecia o sacrifício. Primeiro porque esse negócio de pertinho, é bem “longinho”. Na beira do asfalto. Só quatro quilômetros. Mas quilômetro daqueles grandes. Justificativas:
– De carro é perto, “de a pé” é que é longe.
– A estrada é de chão, mas é melhor que asfalto !"
Daí uma meia hora saímos da civilização. Antes cada curva todo mundo pedia a Deus para já ser o lugar. Quando acabava a curva e via o lugar, rezava para não ser. Uma agonia ! Depois de 17 porteiras, duas atoladas e quatro “perguntadas”, chegamos.
E quem pesca anda cheio de equipamento. O Joel se fosse utilizar todos os seus, não ia dar nem tempo de pescar. Não, e a iscaologia ? Cada um tem a sua isca especialíssima, secretíssima para cada tipo e tamanho de peixe. E todos pescam com iscas diferentes e todos pegam os mesmos peixes. Sacanagem dos peixes.
O poço estava rodeado por uma cerca enorme de mourões branquinhos e roupas pendurada. Ao me aproximar vi que eram os pescadores. Se pra comer peixe tem que pescar, vou esperar o sermão da montanha.
O calor era terrível. Tinha passarinho voando com uma asa e se abanando com a outra. Eu fiquei com os mosquitos e pernilongos, que aliás, educadíssimos. Antes de me picar se desculpavam sussurrando qualquer coisa no meu ouvido. Sempre.
Suportei até por volta das seis. Estava mais perdido que cego em cinema mudo. Do alto da colina, de braços abertos, eu parecia o Cristo Redentor catequizando o povo lá embaixo para ir embora. Nessas alturas, a Dirce, tirando mira no copo, já estava discutindo com o Eleutério qual é a perna que o saci não tem. Dá pra agüentar?
O primeiro grito que eu dei foi abafado com um PSSSSSIIIIIIUUUUU uníssono:
- Vai espantar os peixes, ô palhaço!!!!
Essa era minha intenção. Mas, como eu era carona, continuei ouvindo conversa de mosquito. O isopor da Dirce esvaziando e ela vice versa. E foi assim até escurecer. E eu já preocupado em pegar banco de traz do fusca na hora da volta. 17 porteiras outra vez, definitivamente não!
Mas o lugar não é ruim, não. Dá até pra montar um bom motel. Já dei a dica para o Eleutério e tenho até o nome: Motel Peque-e-Pague.
Na volta, o Joel veio me contando:
- Sabe por que Baptistinha e o Salles não estão aqui? Fizeram promessa de parar de beber. Mas o Salles não resistiu muito tempo. Foi beber no botequim do Arruda. Chegando lá quase pega o Baptistinha pedindo uma cerveja:
- Baptistinha !!!, “que cê ta” fazendo aqui ?
E ele todo sem jeito:
- É... é... é que eu “tô” te seguindo pra ver se tu “tá ou num tá” na nossa promessa.
- Me seguindo ? Mas como, se eu cheguei e você já estava aqui ? Hem? Hem? Hem?
- É que eu te segui mais depressa que você...
Roberto Sousa
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