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domingo, 4 de dezembro de 2011

Coisas deleitáveis

Seguindo o conselho de Paulo Mendes Campos, resolvi tomar parte de um divertido exercício literário e escrever minha própria lista de coisas deleitáveis (confesso que as coisas abomináveis me tomariam muito mais tempo).

Terminar de ler um livro; andar descalço na grama úmida, comer amora no pé e sair cuspindo vermelho; fisgar peixe grande; conversar com dono de butiquim simpático; encontrar velho amigo com boa memória; cigarro à noitinha na varanda, quando bate uma brisa leve; céu estrelado de interior; poema de Vinicius de Moraes; Pablo Neruda em madrugada de melancolia; violão bem tocado; piano bem tocado; conhecer gente que conheceu quem você admira; conversa inesperada com desconhecido durante o almoço; passarinho quando pousa perto da gente; tarde em Leopoldina na casa do Sr. Roberto; escrever texto a dois (Night!); criança brincando em parquinho; água de côco gelada em dia de ressaca; “sombra de árvore”; taxista bom de papo; “ganhar uísque de presente”; disco de vinil bem conservado; comer com fome; “dormir cansado”; acertar tiro ao alvo de primeira; “batucada bem batida”; batida bem batucada; samba bem dançado; carnaval com marchinha, confete e serpentina; “rasgar papéis inúteis”; “andar de bailarina’; sorriso de moça bonita; “aroma de madeira”; terminar tarefa importante, em cima do prazo; comer algodão doce depois de velho; 1º de Janeiro; Fevereiro; feijão novinho; choro de Pixinguinha; cochilo no sofá ao som de uma musiquinha bem baixinha; soprar dente de leão; passar a tarde em Santa Tereza, em um dia de primavera; comer caranguejo; observar quadro do Hooper pela primeira vez, principalmente Nighthawks; uísque on the rocks; mesa farta; pão quentinho com manteiga fresca; fazer amizade com pessoas com o triplo da sua idade; ler, deitado no sofá, em da de chuva fina; sentir cheiro de chuva; conto de Aldir Blanc; conto do Roberto, aquele mesmo de Leopoldina; sino de igreja; ganhar fruta fresca na feira; sotaque de Porto Alegre; rir de besteira; inventar personagens para conversar com sigo mesmo; dinheiro achado no chão; ganhar dedicatória em livro; chinelo havaiana em dia de semana, de tarde; descobrir um butiquim novo em que o dono é o maior barato; comprar instrumento musical; galinha caipira no fogão de lenha; aprender que a faca de pão é o melhor instrumento pra se descascar abacaxi; coceira de bicho de pé; cheiro de café quando se acorda; fotografia dos familiares quando jovens; ducha quente de hotel chique; brincar de cozinhar; a primeira poesia; Manuel Antônio de Almeida aos 14; Jorge Amado aos 16; Cartola aos 18; O Pasquim aos 20; solo de trompete; descobrir pessoa com voz bonita; feijoada no aniversário; cachacinha especial no dia da feijoada pra compartilhar com o amigo que chegar mais cedo; ver o Tio Maurício bebendo cerveja; relembrar amor antigo; terminar de escrever um texto; “escrever a própria lista de coisas deleitáveis”.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

23 elogios

Esse texto foi escrito em homenagem à pessoa que rompe com a melancolia de minhas tardes e faz surgir um sorriso novo a cada pensamento.

Em busca de uma lista de elogios percorri extensa bibliografia e mesmo assim não achei todos que queria.

Poderia, em voz poética, começar falando que teus sentimentos são pura poesia, e teus sofrimentos, melancolia. Ou, fazendo vista grossa para minha vergonha desvairada, dizer ainda que teus pelos são relva boa, fresca e macia. E teus braços são como cisnes mansos longe das vozes da ventania.

Neste ponto a coisa começa a ficar mais bucólica, sendo assim arrisco comparar teu riso ao canto célebre da primavera, primavera que surge do perfume preso em seus cabelos e evanesce. Ou mesmo, notar que o sol sobre seu belo rosto soberano espalha a mais pura claridade, eterna dançarina do efêmero.

Parafraseando melodia, como o poetinha já dizia, tu és feita de música, luar e sentimento e que a vida não te quer de tão perfeita. Uma mulher que é como a própria lua: Tão linda que só espalha sofrimento, tão cheia de pudor que vive nua.

Se te acho linda? Claro que sim, em ti bendigo a beleza das coisas simples. Seu próprio nome é uma carícia disfarçada. E, cultivando sua imagem de outrora, sem demora ouso até citar cartola: teus olhos têm a cor do firmamento, em mim eles foram a aurora!

Com seu sorriso e suas tramas você não vem, surge, misteriosa e portadora de si mesma e ao invés de “ir embora”, parte, com toda graça que de mulher que lhe impregna. Seu toque é como um fundo veludo que se traduz em uma fina firme forma feminina, e quando reluzes de alegria, penso até que debaixo da sua pele vive a lua.

Como disse no início, não achei todos os elogios que queria, e reconheço que tal tarefa seria impossível visto que a lista se tornaria interminável, pois as palavras brilham em sua graça inesgotável. Desta maneira, fico feliz apenas em despertar-lhe certa alegria, para que sorria seu sorriso que é tosse de ternura.


Obs.: o texto foi construído em cima de citações das obras de Vinicius de Moraes, Pablo Neruda, Cartola e Carlos Drummond deAndrade.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Pequeno discurso sobre fidelidade

Eu, pessoalmente, nunca acreditei em uma fidelidade por si mesma, mas tenho que admitir que ela conta para as pessoas que me cercam. E percebo isso dolorosamente... através da dor do outro.
Toda fidelidade requer, por via de regra, uma traição - não se pode permanecer fiel a tudo ao mesmo tempo. Isso pressupõe que ao longo da vida ela se altera de acordo com os valores em diferentes níveis, quanto maior o nível de fidelidade a um certo valor, mais traições seriam cometidas tendo outros valores menos desenvolvidos como alvo.
Porém, ao admitir que esses sentimentos são dinâmicos, toda a estrutura na qual se baseia a fidelidade "cobrada" se torna frágil sem que exista uma moeda de troca, ou seja, algum outro sentimento, ou sentimentos, que alimente ou recrie o motivo da fidelidade ao longo do tempo.


(em breve apresentari a continuação deste texto e, como tira gosto, uma singela lista das coisas deleitáveis na opinião desse que vos escreve).