Eu tenho um vizinho, lá na fazenda em Cataguases, que parece com o Mineirim desta história.
Quando eu morava ainda na cidade, em Cataguases, ia toda a manhã para a Fazenda.
Quase sempre no caminho eu passava pelo Zé Roberto (o vizinho).
Ele ia e voltava bem cedo do sítio.
Quando tinha algum animal com problema na minha fazenda, alguma doença ou outra coisa, ele me cercava na estrada, fazendo sinal com a mão, aflito, era só eu parar e lá vinha a notícia:
- Bom dia, Aurélio!!
- Bom dia Zé.
- Sabe aquela bezerra sua, que tava doente ...
- Sei.
- Acabou de morrer! Que bezerra bonita heim sô!
- Pois é ... foi uma pena ...
E assim, no passar dos anos, de vez em quando eu era surpreendido pelo Zé com uma notícia desagradável dessas.
No início de um mes de janeiro, com um verão prometendo ser dos mais quentes, o Zé Roberto resolveu ir para Marataízes com a família. Tomar banho de mar.
Precavido, aí eu já estava morando na fazenda, passou lá comigo deixando o telefone da casa da praia, além de fazer algumas solicitações e recomendações.
- "Qualquer coisa liga lá pra mim! Não preocupa não que depois nós acertamos as contas das ligações." Dizia ele.
Só foi embora diante da minha promessa que ia dar uma olhada, de quando em vez, no sítio dele.
Embora tivesse um empregado para cuidar das coisas.
Dois ou treis dias depois que o Zé partiu, feliz, com a família para a praia, num fim de tarde, caiu um temporal de verão daqueles, lá em Cataguases.
O céu escureceu ainda no meio da tarde, e não tardou a chuva cair forte.
Relâmpago pra todo lado, e aquela correria para tirar os eletrodomésticos das tomadas. Na área rural é sempre assim, alerta geral quando chove com relâmpago.
Na manhã seguinte, bem cedo, me aparece o empregado do Zé:
- Seu Aurélio, bom dia!.
- Bom dia Bastião!
- Queria pedir um favor, pra ligar pro seu Zé. Falar com ele que as novilhas esconderam debaixo da árvore na hora da chuva, caiu um raio e matou elas tudo!!
- Num diga, Bastião, eram quantas?
- Todas elas: 15 !!
Na hora percebi que era o grande momento da desforra !!! E imediatamente disse:
- Bastião, pode deixar que eu ligo e falo com ele.
Fui em direção ao telefone saboreando o gosto da desforra.
Depois de tantos anos, e tantas notícias ruins, era a minha vez, respirei fundo e liguei:
- Bom dia Zé, como estão as coisas por ai?
- Tudo bem, e aí?
- Chuveu muito forte ontem por aqui.
- Aqui o céu tá lindo, sol forte, muita praia, uma beleza!
- Zé, sabe aquelas novilhas suas?
- Sei, tem alguém querendo comprar?
- É que elas esconderam debaixo da árvore na hora da chuva, caiu um raio, morreram todas as 15.
O Zé ficou mudo do lado de lá.
Depois de restabelecido me pediu para cuidar dos funerais.
Aurélio de Sousa